domingo, 5 de julho de 2009

Leitura Complementar

KASPAROV E O MONSTRO
Garry Kasparov não era apenas mais um grande jogador de xadrez: ele era o
mestre de todos os grão-mestres, o maior jogador da história. No auge do seu
prolongado reconhecimento, na primavera de 1997, com 34 anos, vinha mantendo o título mundial por 12 anos, sem jamais perder uma partida sequer nas competições de que participara. Em maio de 1997, o gênio estava em Nova York para enfrentar novamente um oponente que vencera há um ano. Estava tranqüilo, seguro de que não havia adversário páreo para ele. No entanto, quando a partida se iniciou, os especialistas de xadrez do mundo todo, assistindo a partida através da transmissão em cadeia mundial do evento (pela televisão e pela Internet), começaram a testemunhar algo inesperado. O grande Kasparov começou a apresentar sinais incomuns de perturbação. Primeiro mostrou dúvida diante de algumas jogadas, depois terror, desespero e perda de controle. Por fim, mostrou-se à beira do colapso emocional.
No passado, Kasparov demonstrara muita facilidade em explorar a fraqueza
do oponente, aprendendo o padrão de pensamento adotado contra ele. Mas, dessa vez, não conseguiu utilizar essa estratégia. A partida terminou empatada, para o espanto geral.
Em seguida veio outro empate, a primeira derrota, e quando chegaram ao
confronto do sábado a série estava empatada. Era o impensável, na opinião de todos os especialistas do mundo. No início do confronto de sábado, Kasparov estava se dando muito bem, consciente de que estava vencendo, quando o seu oponente desfechou contra ele uma seqüência brutal de movimentos, abalando-o claramente. A partida novamente terminou em empate. Diante da seqüência empatada, foi marcado mais um confronto, para a segunda-feira.
Quando se sentou diante do seu oponente o ar confiante e a arrogância típica
de Kasparov havia dado lugar a um jogador com movimentos nervosos, olheiras e ar sombrio. Antes de começar a jogar, ele já parecia derrotado. Ao longo da partida, o aspecto do gênio foi se deteriorando ainda mais, diante dos movimentos incontestavelmente superiores de seu oponente. Diante das câmeras e do mundo todo,
Kasparov abaixou a cabeça, colocou o rosto nas mãos e depois se levantou e desistiu da partida, tendo feito apenas 19 movimentos.
Na tumultuada entrevista coletiva, alguns minutos depois, quando perguntado
sobre o motivo do que acontecera, Kasparov respondeu: “Sou um ser humano.
Quando vejo algo além da minha capacidade de compreensão, sinto medo”.
(Schultz & Schultz, 2005)

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